UM ÚNICO PEDIDO
- Nei Damo
- 11 de abr. de 2020
- 4 min de leitura
Millor Fernandes fazia “O Pif Paf” na antiga revista O Cruzeiro, com o pseudônimo Vão Gogo, numa clara referência ao pintor Van Gogh. Em suas duas páginas de fino humor, de quando em vez, ao usar uma palavra estranha, ele colocava logo após a palavra, “Dicionário! Dicionário!”, entre parênteses.
Leitor assíduo desde a segunda série ginasial, onde eu buscava nos açougues da cidade as revistas usadas de O Cruzeiro, que tinham as páginas arrancadas para os açougueiros embrulhar as carnes, eu sigo ainda hoje aquele (Dicionário! Dicionário!) da minha adolescência.
Com o Millor, aprendi a gostar das palavras e, assim, ainda sigo o Vão Gogo que me divertia tanto, não mais usando o dicionário escangalhado e já sem capa que eu tinha, mas, na modernidade em que vivo, uso o Google, onde aprendi mais uma palavra ádvena (Google! Google!): comorbidade.
E comorbidades, cujo significado eu aprendi nestes tempos turbulentos, as tenho para dar e vender, embora não tenha encontrado ainda o louco que as queira comprar.
A Petrobras, onde trabalhei como engenheiro, obrigava seus funcionários a fazer checkup anual a partir dos quarenta anos de idade, prática que continuei fazendo até hoje. Meu primeiro clínico geral, um ótimo médico, com todas as dez ou doze páginas dos meus exames laboratoriais nas mãos, começava assim a consulta, pausadamente:
— ... Vejamos... tá... tá... Hum... tá... tá... tá... Hummm... tá... tá... Humpf!... tá... tá... tá... tá...
— Bem, nesta primeira página são três problemas... — e enquanto terminava esta frase com se estivesse falando para si mesmo, me dava uma rápida olhada de esguelha.
Meu Deus! Neste monte de páginas vão ocorrer uns trinta problemas, pensava eu, ao mesmo tempo em que tentava decodificar aqueles tá tá tá e Hums , nos sussurros da primeira página:
— ... tá... tá... tá... era barbada. Tudo dentro dos conformes.
— ... Hum... poderia ser um colesterol um pouco fora da faixa da normalidade
— Hummm... poderia ser a glicose muuuito fora da faixa.
— Humpf!... poderia ser... Putz! Este cara tá fudido!
Consolava-me pensando que depois, certamente, ele iria verificar a minha pressão para saber se ainda eu estaria vivo.
Um pândego, este meu primeiro clínico geral.
Médicos tem que ser conhecedores da natureza humana e, por trás daquela postura circunspecta que usam ao ler exames, eles na verdade estão se preparando para conversar com o paciente.
Mas médicos também riem, porque o homem ri. Ri balançando a pança, ri sozinho, ri a bandeiras despregadas, como falam em Portugal, ri na desgraça, ri forçado, ri de tudo e ri até de não conseguir segurar o xixi.
Médicos Pre(escrevem) foi um dos melhores livros de humor que já li, e conta historinhas de hospitais e de consultórios, evidentemente escritos por médicos. Comprei e li todos os que foram editados.
Agora, o homem ri na pandemia, e rir sempre é bom, porque rir é uma defesa. Nós precisamos rir, e os médicos também precisam.
Recebi da minha filha médica a postagem abaixo, feita, como vocês verão, por um médico.
“Resumão:
Caros amigos deixo aqui minha autorização pra usarem em mim hidroxicloroquina + azitro + annita + zinco + vitamina D + heparina +irvermectina + ritonavir + letonavir + vinho malbec caso eu precise de internação.
Intubação precoce, por favor.
Podem me sedar bem...Gosto do propofol, de preferência até acabar a quarentena!
Se quiserem, posso deixar minha prescrição aqui.
Não fiquem esperando sair publicação não, blz?
Aceito até boato como evidência científica.
Se forem me incluir em algum estudo, quero entrar no grupo que usa os medicamentos! Não me coloquem no grupo placebo, please.”
Aposto que ele, ao bolar o texto, o fez com um sorriso descambando para a gargalhada, certamente pensando no riso dos amigos médicos que iriam receber a postagem. É um refinado senso de humor, o deste profissional da saúde.
A operadora deste blog é minha sobrinha Thaise, mestre em engenharia de automação e sistemas, que faz coisas inimagináveis, como usar meu computador à distância, mais exatamente eu em Florianópolis e ela em Balneário Camboriú. Meu único trabalho é ficar sentado em frente ao computador, olhando embasbacado para a seta do mouse na tela, bailando feito uma dançarina de cabaré.
Já disse para a minha sobrinha que o bom mesmo seria que, se alguém clicasse no seu nome lá embaixo no Blog, o ideal seriam as letras ficarem coloridas e dançantes, enquanto fogos de artifícios subiriam para bem alto, com violinos ao fundo.
Mas me disse ainda a Thaise — "Houston, we have a problem! Houston, we have a problem!", é o que mais ela tem escutado ultimamente — que o Blog poderia render dinheiro, deixando o Google colocar propaganda.
— Quanto mais acessos mais grana?
— Sim
Comecei a avaliar bem a proposta, porque da minha metade, eu quero aplicar bem meu dinheiro. Após algumas horas, decidi pelo título desta crônica: Um Único Pedido.
E o único pedido é:
— Compartilhem este blog com o grupo dos parentes, da empresa, dos amigos, da política, da jogatina, do futebol do sábado e do churrasco.
— Compartilhe com seus contatos, os amigos, as mulheres e as amantes.
— O blog precisa de muitos acessos!
— Eu preciso da minha parte da grana!
— Força aí, trecheiros e barrageiros!
— Força aí, pessoal das pedreiras, britagens e laboratórios por onde passei!
— Força aí, aqueles que gostaram das crônicas!
Compartilhem! Eu preciso da grana!
Nesta pandemia, pedi para a minha filha médica deixar pronta a prescrição cheia de humor lá de cima, comigo de paciente, mas com duas mudanças: incluir na relação dos remédios o redemsivir e, no lugar do malbec, botar um carmenere!
Então pessoal, compartilhem!
Quero um carmenere de uns trezentos reais a garrafa! No mínimo!
Força! Compartilhem!
Obrigado.
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