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ACHADOS E PERDIDOS

  • Foto do escritor: Nei Damo
    Nei Damo
  • 14 de jun. de 2020
  • 3 min de leitura

Quem não sabe o que busca, não identifica o que acha. A frase é de Immanuel Kant, um filósofo prussiano, (1724 – 1804) considerado por muitos como o principal filósofo da era moderna. Professor de geografia e ciências naturais, estudou filosofia, física e matemática e é autor de muitas obras filosóficas. Em conjunto com Laplace, o matemático, físico e astrônomo francês, lançou uma teoria de formação do sistema solar, conhecida como “Hipótese Kant – Laplace”.

Sobre a frase, Kant deve ter se debruçado muito a respeito. Em si, ela parece até enigmática: Quem não sabe o que procura, não identifica o que acha. Se um sujeito toma na mão algo que ele não sabe o que é, é porque ele não sabe mesmo o que está procurando. E porque ele estaria procurando algo, se ele não sabe o que é?

Mas a frase é famosa, e Claude Bernard, médico francês, considerado um dos maiores estudiosos da ciência, a deve ter estudado em Kant, porque o dito “Quem não sabe o que procura não sabe quando encontra”, é dele. Bernard modificou a frase de Kant mantendo o significado, talvez pensando que com isto, o seu sentido ficasse mais compreensível.

Durante a segunda guerra mundial, ao ser atacado por aviões bombardeiros, era preferível um navio manter o rumo para tentar acertar o avião com seus canhões antiaéreos, ou ziguezaguear, tentando escapar das bombas, em detrimento da mira dos canhões?

Portanto, para o serviço de inteligência da marinha americana, a questão era procurar a melhor alternativa. Eram muitas as variáveis a serem estudadas: velocidade do navio, velocidade do avião, ângulo de ataque, manobra de aproximação do avião para o ataque, tempo de manobra do navio, condições do mar, e mais algumas tantas outras.

Considerando isoladamente um piloto de avião bombardeiro, um comandante de navio, um operador de canhões, um matemático e um físico, nenhum deles saberia o que buscar na questão, ou achando algum dado a respeito da questão, não saberia o identificar. Mas quando atuaram em conjunto, cobriram tudo o que procurar no problema, assim como conseguiram identificar o que acharam. Matematicamente, concluíram que navios maiores deveriam manter o rumo e se esmerar na mira dos canhões e, os navios menores deveriam ziguezaguear, tentando escapar das bombas.

Quando uma questão é tratada por alguém, ou mesmo alguma empresa, de maneira isolada, fatalmente em algum ponto a frase vai se concretizar.

Um caso real foi a implantação de uma rodovia no sul do Brasil. Analisado o solo por onde passaria a estrada, chegou-se à conclusão que seria necessário um reforço do sub leito, e então procurou-se nas cercanias do eixo da via um material de maior capacidade de suporte. Identificadas algumas jazidas, optou-se por uma de um bom material, mas de capacidade de suporte inferior ao requerido, compensando-se esta diferença de suporte em colocar uma maior altura de camada, visto ser a jazida escolhida a mais perto do centro de gravidade do trecho, e assim, de custo de transporte mais baixo. Do ponto de vista de projeto de rodovia, foram realizados todos os ensaios preconizados em normas técnicas e especificações de serviço, naquele material que, ao simples olhar, parecia um corriqueiro saibro de cor amarela, puxando para um tom avermelhado.

Construída a rodovia e em alguns anos mais tarde, um técnico em cerâmica descobriu que aquela cor avermelhada do saibro era devido ao potássio, e que o material colocado como reforço do sub leito, se industrializado, teria um valor de uns seiscentos reais por tonelada. Assim, por não saber o que se encontrou, a empresa projetista enterrou, sem possibilidade de retorno, algo ao redor de duzentos milhões de reais.

Sobre as frases de Kant e de Bernard, uma breve pesquisa na internet aponta para mais duas variantes, sem citar os autores:

— Quem não sabe o que procura, quando encontra, não reconhece.

— Quem não sabe o que procura, não percebe o valor quando encontra.

E mais de duzentos anos depois, desde Königsberg, cidade de Kant, a frase aterrissou em algum boteco deste imenso Brasil. E ali, entre amigos, risadas e copos de cerveja, algum gaiato deu a cor nacional à famosa frase:

— Quem não sabe o que procura quando acha não encontra!

 
 
 

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